Interlocuções Formativas para o Desenvolvimento Profissional Docente
A definição de aprendizagem dialógica está fundamentada nas concepções teórico-metodológicas (FLECHA, 1997), elaboradas pelo Centro Especial de Investigación en Teorías y Praticas Superadoras de Desigualdades da Universitad de Barcelona (CREA), e pauta-se em sete princípios, a saber: 1) Princípio do diálogo igualitário; 2) Princípio da inteligência cultural; 3) Princípio da transformação; 4) Princípio da dimensão instrumental; 5) Princípio da criação de sentido; 6) Princípio da solidariedade; 7) Princípio da igualdade de diferenças (Ibid., 1997).
Os fundamentos e princípios da aprendizagem dialógica estão embasados nos referenciais teóricos da ação comunicativa, de Jurgen Habermas e também na abordagem sociocultural/teoria da ação dialógica, desenvolvida por Paulo Freire.
A abordagem da teoria do agir comunicativo (HABERMAS, [1981]2001) parte do pressuposto que todas as pessoas têm a capacidade de linguagem e ação. Constantino et al. (2011, p. 59) afirma que a concepção de aprendizagem dialógica na perspectiva de Habermas considera que a relação comunicativa está baseada na dialogicidade igualitária onde os homens buscando desvelar a sua realidade e “debruçam, a partir de suas diferentes óticas, [...] para compreendê-la melhor e promover ações coletivas pautadas na força dos argumentos aportados e não em argumentos coercitivos relacionados às posições de poder ocupadas por seus participantes”.
Na concepção de educação sociocultural, o diálogo possibilita o processo de conscientização, o qual segundo Freire (1979, p. 15) consiste em: “[...] compromisso histórico, consciência histórica, atitude crítica dos homens na história, inserção crítica na história, e isso implica que os homens assumam o papel de sujeitos que fazem e refazem o mundo”, ou seja, demanda que os homens criem sua própria existência.
Assim sendo, afirma-se que o diálogo no desenvolvimento profissional de docente possibilita a transformação do ser humano por meio do uso da palavra verdadeira e com isso possibilita o encontro, a reflexão e a ação. Favorece a busca de caminhos para a construção de novas ideias, de novas relações pautadas na humanização.
Na medida em que desvela o mundo não compreendido à primeira vista, o ser humano se envolve e se compromete com a práxis educativa, com a sua transformação (FREIRE, 1979). Isso implica dialogicidade.
Paulo Freire (1979, p. 15) afirma que “[...] a conscientização não pode existir fora das “práxis”, ou seja, sem o ato ação – reflexão”. Isso exige uma educação como prática de liberdade e verdadeiramente humanizadora na constante busca ontológica pelo ser mais.
Dessa maneira, não se pode compreender a educação como um mecanismo meramente adestrador. A prática educativa não é neutra e o ato cognoscível é essencialmente desempenhado nas relações sociais e ato de educar é fundamentalmente um ato político e pressupõe ação e reflexão na ação (FREIRE, 1997).
A dimensão dialógica assume um valor fundante trabalhando em equipe interdisciplinar, ao acolher os diversos universos temáticos, amparando-se no rigoroso processo investigativo, reflexivo e transformador da realidade objetiva.
O desempenho das práticas educativas nesta perspectiva busca envolver o coletivo de profissionais com forte engajamento e fortalecimento da participação, da cidadania, da reflexão-ação e da formação da consciência política (PIMENTA e GHEDIN, 2012) para o favorecimento de sua atuação profissional transformadora, com vistas a proporcionar aprendizagem significativa e vivência dos princípios da aprendizagem dialógica na construção coletiva de novos conhecimentos sobre a prática educativa.
Baseando-se nestes princípios é que a formação de professores para boas práticas educativas deve ser embasada com um suporte metodológico-formativo em uma das atuações educativas de êxitos que é a tertúlia pedagógica dialógica, a qual busca realizar intervenções pedagógicas de maneira participativa e dialógica entre o coletivo de educadores comprometidos com a transformação do seu contexto sociocultural.
Essa relação favorece a conscientização, a práxis reflexiva e a problematização com expressivas “possibilidades formativas e autoformativas” (IMBERNÓN, 2003, p. 15) no processo de formação de professores, pois essa estratégia “muda a metodologia didática. [...] Todos os professores são mestres de todos. Trabalha-se com aprendizagem recíproca e cooperativa. Amplia-se a noção de aula e das possibilidades e as funções educativas [...]” (IMBERNÓN, op.
cit., p. 15).
A prática formativa alicerçada nas tertúlias pedagógicas dialógicas proporciona o diálogo e o compromisso e essa relação dialógica contribui para a realização de práticas educativas problematizadoras com a “utilização de um método ativo de educação, um método dialógico – crítico e que convida à crítica” (FREIRE, 1979, p. 28).
As tertúlias pedagógicas aproximam professores de saberes científicos da área da educação e encontra nos princípios da aprendizagem dialógica os fundamentos de uma prática educativa inovadora, construída com os sujeitos de forma ativa e participativa. Consideradas atividades educativas de êxito para a formação de professores, possibilitam a construção do conhecimento relacionado com a prática educativa coletivamente, através da relação dialética entre os aspectos teóricos e as práticas e vivências mediatizados pela ação-reflexão-ação, diante da realidade estabelecida (GOZÁLEZ et al., 2012).
Manoel Santos é Pedagogo, Mestre em Conservação da Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável - ESCAS-IPÊ/SP. Maestría Estado Gobierno y Políticas Públicas - FLACSO-Brasil Especialista em Gestão da Educação pela Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC/BA. Líder Educacional na Empresa Insight Management Educacional. Atua no Departamento de Política, Gestão Educacional e Educação para a Sustentabilidade.
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