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Foto do escritorCristiane Casquet

Cultura digital e diálogo: complementares e indissociáveis

Atualizado: 17 de abr. de 2020

Miguel Thompson conversou com Cristiane Casquet Educação & Cultura sobre alguns desafios da Educação em tempos de quarentena. Confira a entrevista:



Diretor Acadêmico da Fundação Santillana, ex-Diretor Executivo do Instituto Singularidades. Licenciado em Biologia pela Universidade Mackenzie, doutor e mestre em Oceanografia pela Universidade de São Paulo (USP), Thompson também tem um MBA em Marketing pela Fundação Instituto de Administração, da mesma instituição.




 


Professor, biólogo, oceanógrafo, consultor e gestor educacional. Conte um pouquinho da sua trajetória profissional e suas áreas de atuação.


No segundo ano de faculdade abandonei um trabalho em escritório para fazer estágio com criação de camarões. Esse contato com o estudo de ambientes aquáticos me levou ao Instituto Oceanográfico da USP, onde fiz estágio, mestrado e doutorado. Lá permaneci por 20 anos e seguramente foi meu principal espaço de formação. No mesmo dia que comecei meu estágio na Oceanografia, em 1986, comecei a dar aulas. Desenvolvi paralelamente a carreira de pesquisador junto com a de professor. Ambas foram complementares, pois contribuíram para que eu tenha uma visão complexa dos problemas das pessoas, da sociedade e do ambiente natural. Por outro lado, o exercício da docência contribuiu totalmente para a capacidade de explicar e difundir ideias complexas e transformá-las em conceitos mais simples.

Há 16 anos passei a atuar como executivo, trabalhando em grandes grupos de educação, onde migrei por um tempo para a área de marketing e ao final como diretor de instituições escolares. No meio dessa história fiz um MBA em marketing de serviços.



Você sempre foi um defensor da necessidade e importância das escolas entrarem na cultura digital. Como a tecnologia pode ser uma aliada na troca e produção de conhecimento?


É impossível hoje imaginar a vida sem a intermediação dos meios digitais. Minha preocupação é que acabamos tematizando mais o meio do que os fins. Me explico: não difere o que devemos desejar para os jovens daquilo que Sócrates, Platão e Aristóteles preconizavam para os jovens – o desenvolvimento de pessoas virtuosas e cidadãos vinculados ao bem comum. A partir desses pressupostos básicos, devemos pensar os meios. Há muito do analógico que ainda deve ser aperfeiçoado, como, por exemplo, as brincadeiras, o trabalho em grupo e as investigações individuais. E sim, os meios todos contam, incluindo a tecnologia digital. Nesse aspecto, devemos buscar novas possibilidades de linguagem para a construção do conhecimento. Não adianta preparar um curso todo focado em Power Point se as aulas são basicamente expositivas. O meio é novo, a aula é velha! Estudar como foram os processos de transição da pintura para a fotografia, do teatro para o cinema e do cinema para o vídeo podem contribuir muito para pensarmos nas novas linguagens digitais. Propor o uso do celular na escola sem desenvolver as linguagens e métodos apropriados para o meio só vai criar dissipação no processo ensino aprendizagem. E isso leva tempo, pesquisa, esforço coletivo.


Há muito do analógico que ainda deve ser aperfeiçoado, como, por exemplo, as brincadeiras, o trabalho em grupo e as investigações individuais. E sim, os meios todos contam, incluindo a tecnologia digital.

Quais são as maiores dificuldades e necessidades que o Brasil enfrenta na implementação da cultura digital nas escolas? Como diminuir a distância entre o sonho de uma "educação digital" e a realidade que vivemos?

Há o aspecto tecnológico, que é determinante para o acesso à cultura digital. Sem a distribuição de tecnologia de ponta, como os sistemas 5G, não teremos a democratização dos meios digitais. Por outro lado, a concepção da maioria dos políticos é antiga. Não adianta distribuir computadores se não forem instalados modernos sistemas de conectividade, como roteadores e WI-FI eficazes. Há também muito preconceito pelos educadores pela educação à distância. O próprio nome, EAD, já é algo ultrapassado e deve ter o mesmo destino de termos como os antigos DP (Departamento Pessoal) e CPD (Centro de Processamento de Dados). Os educadores não podem imaginar que continuaremos com uma metodologia EAD. Hoje, como estamos vendo na atual crise pandêmica, apesar do distanciamento físico, o digital está criando uma vida ubíqua, onde estamos em todos os lugares ao mesmo tempo. Seria uma educação sem distância, uma vida on! É nas mudanças desses muitos paradigmas educacionais e de conectividade que poderemos produzir uma educação imersa na cultura digital. Por fim, para que não haja dúvidas, nada substitui a presença física no processo educativo. Mas as possibilidades híbridas potencializam o processo de construção do conhecimento.


Por fim, para que não haja dúvidas, nada substitui a presença física no processo educativo. Mas as possibilidades híbridas potencializam o processo de construção do conhecimento.

Qual o seu recado para fortalecer a rede de professores nesse momento tão desafiador pelo qual estamos passando?


Penso que os professores estão desempenhando um trabalho maravilhoso. Todos aqui em casa são professores (minha mulher e minha duas filhas). Estão trabalhando 10, 12 horas por dia. Conversam muito com seus colegas, aprendem com os alunos, refletem com os coordenadores escolares. Atrevo-me a fazer um único conselho: conversem!


Atrevo-me a fazer um único conselho: conversem!

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