Maria Fernanda Elias Maglio é escritora e defensora pública. Trabalha fazendo a defesa de pessoas pobres que estão cumprindo pena. Seu primeiro livro, "Enfim imperatriz" (Patuá, 2017), venceu o prêmio Jabuti 2018 na categoria contos.
Dia 24/11, no lançamento do seu segundo livro, na Patuscada, Livraria, bar & café, Maria Fernanda conversou com Cristiane Casquet Educação e Cultura e falou sobre o seu novo livro 179. Resistência (Reação, Renitência, Insubmissão, Oposição, Contraposição, Contrariedade).
179. Resistência tem título e capa fortes, bastante impactantes. Conte um pouco sobre esse título e a ilustração da capa.
O título faz referência ao verbete do Dicionário Analógico relativo à palavra resistência. Tem um sentido político óbvio, nestes tempos de fascismo, resistir é fundamental. Mas vai além disso: resistência também no sentido de resistir à loucura, resistir à vida e, sobretudo, pela vida. A capa foi feita por uma grande amiga minha, a artista plástica Luciana Balam. Ela deu a ideia que de que fosse a reprodução de um bebê que tivesse acabado de nascer e eu gostei. Diversas poesias têm como tema central a maternidade. Além disso, nascer, respirar pela primeira vez, é o primeiro ato de resistência.
Como a poesia chegou tão forte pra essa escritora que não se diz poeta?
Eu digo que não sou poeta e é verdade. A poesia exige um trabalho de linguagem que ainda não fui capaz de alcançar. Sou uma não poeta que, de tanto gostar de palavras,
acabou escrevendo poesia. Mas não acho que precise ser poeta para escrever poesia, a poesia não está nesse lugar alto em que muitas vezes ela é colocada. A poesia está ao alcance de todas as mãos (poetas e não poetas).
Fernando Pessoa diz que "o poeta é um fingidor, finge tão completamente que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente..." Poesia rima com dor?
Acho que literatura rima com dor. Por mais beleza que exista (e existe), há dor e crueza. A vida nos mostra frágil todos os dias e a beleza vem justamente daí, da perspectiva incontrolável e certa de que pode acabar a qualquer instante. Se você se dispõe a fazer uma literatura que leve à reflexão, ao questionamento, não tem como ignorar a dor.
Se você se dispõe a fazer uma literatura que leve à reflexão, ao questionamento, não tem como ignorar a dor.
Seus poemas passeiam por muita doçura, emoção, tristeza, crueza, dureza... A vida como ela é, em forma de poesia. Fale um pouco do seu processo de criação.
Poesia é uma forma de resistência?
Sim, sem dúvida, poesia (ler e escrever) é uma forma de resistir, de desautomatizar, de enxergar com um olhar novo todas as coisas velhas.
Diferente da prosa, que consigo me forçar a escrever, sentar em frente ao computador e produzir um texto mesmo que esteja sem ideia nenhuma, a poesia precisa vir sozinha, de forma espontânea. Só sento para escrever um poema se tenho um ou dois versos na cabeça.
Enfim, imperatriz, seu primeiro livro, venceu o Prêmio Jabuti 2018 na categoria contos. Agora você premia seus leitores com poemas de tirar o fôlego…
O que vem por aí? Novos projetos?
Estou escrevendo um romance, terminei uma primeira versão. A história parte do último conto do Enfim, imperatriz, Cartas à irmã. Gosto muito dessa história e tenho trabalhado bastante nela, espero que funcione.
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